sexta-feira, 29 de maio de 2009
Os poetas da Bila V
Este sangue de luz que a madrugada entorna!
Poetas, que somos nós? Ferreiros d'arsenais;
É bater, é bater com alma na bigorna
As estrofes de bronze, as lanças e os punhais!
Acendei a fornalha enorme – a Inspiração.
Dai-lhe lenha, – a Verdade, a Justiça, o Direito
E harmonia e pureza, e febre e indignação;
E p'ra que a lavareda irrompa, abri o peito
E atirai ao braseiro, ardendo, o coração!
Sendo o último dia da semana dos poetas da Bila, permiti-me alargar horizontes (uns 100 Km) e aqui fica um testemunho de Guerra Junqueiro, a quem os políticos chamavam poeta e os poetas apelidavam de político.
quinta-feira, 28 de maio de 2009
Os poetas da Bila IV
Aqui é o homem,
desde as mãos ossudas e calosas,
desde o suor
ao sonho que transpõe as nebulosas.
Montes de pedra dura,
gólgotas
onde os geios são escadas!
Venham ver como sobe o desespero
e a esperança, de mãos dadas.
Nem Baco nem meio Baco!:
Aqui é o homem
que nada há que não suporte
mas suporta e persiste.
Aqui é o homem até à morte.
Os poetas estão de volta depois da rebeldia de ontem. Desta vez, António Cabral.
quarta-feira, 27 de maio de 2009
Os poetas da Bila III
Mas agora, sei lá eu porquê, a ideia é outra…
Talvez só por hoje (ou não),
vou rebelar-me contra palavras inúteis,
sobejantes, escusadas, vãs.
Palavras que nada dizem,
que nos transviam da felicidade
e nos inundam em fantasias pouco sãs.
Por isso, hoje não há poetas da Bila p'ra ninguém. Veremos amanhã…
terça-feira, 26 de maio de 2009
Os poetas da Bila II
Tão triste da nossa alma portuguesa,
Junto de ti, vestido de humildade,
Meu coração ajoelhado reza.
Quero amar-te na fria soledade
Da virginal e bruta natureza,
Longe do mundo, na sinceridade
Da mais humana e pura singeleza.
Senhora da Distância e da Neblina,
Alma de lírio em corpo de menina,
Que para o amor dum anjo é que nasceu…
Irei à tua romaria, em breve,
À tua serra antes que volte a neve,
Que te veste de noiva, em lindo véu.
... E o blogue é também de Afonso de Castro
segunda-feira, 25 de maio de 2009
Os poetas da Bila I

De um lado gente; doutro lado gente;
Lados e filhos desta mesma serra,
O mesmo que os olha e os consente.
O mesmo beijo aqui; o mesmo beijo além;
Uivos iguais de cão ou de alcateia.
E a mesma lua lírica que vem
Corar meadas de uma velha teia.
Mas uma força que não tem razão,
Que não tem olhos, que não tem sentido,
Passa e reparte o coração
Do mais pequeno tojo adormecido.
sábado, 23 de maio de 2009
Pioledo
sexta-feira, 22 de maio de 2009
O que faltava
No seio dos nossos dias nem portátil, nem telemóvel, nem SIC, nem TVI, nem DVD, nem televisão por cabo, nem preocupações ecológicas, nem Messenger, nem e-books, nem iPod, nem CD-R, nem Skype, nem centro comercial, nem auto-estrada até lá, nem património mundial por vizinho.
No seio dos nossos dias não nos faltava mesmo nada.
quinta-feira, 21 de maio de 2009
Não pensem que é exagero!!
Cinco segundos depois já sabíamos; vínhamos as duas de Almada.
À semelhança do melhor espírito de emigrante, partilhamos, logo ali, histórias escabrosas das nossas adolescências (dentro do limite da escabrosidade admitido para menores de vinte anos). A agitação era tal que as alminhas circundantes nos olhavam desconfiadas, mensurando mentalmente o nosso nível alcoólico e aferindo-o elevadíssimo, enquanto em nós se ia instalando uma amizade que (estranho como nunca nos apercebemos dessas coisas na altura) criaria raízes de carvalho.
O quarto dela confundi-o com o meu, os nossos amigos confundiram-se também e partilhamos algumas “coisas” que o decoro me impossibilita de mencionar. Ao longo do tempo a nossa história e até a nossa vida se misturou de forma permanente. E não pensem que é exagero, senão vejam um exemplo (só um): eu casei com o primo dela e ela conheceu Billy Holiday comigo.
É evidente que, neste caso, em matéria de qualidade ela ficou a ganhar, mas sem querer prosseguir numa lógica contabilística de lucro ou prejuízo, posso afirmar, seguríssima de acertar, que a amizade da Nica foi, de todas as coisas que ganhei em Vila Real, a maior, a melhor, a que ainda hoje permanece inquebrável.
Quem se lembra da Rock Magazine?
Tenho duas edições desse fenómeno jornalístico (não sei se terá havido uma terceira) e partilho-a com vocês.
Muito chorei eu ao lê-la e relê-la estes anos todos, de tanto rir!


quarta-feira, 20 de maio de 2009
Desde o desafio da Cátia que…
Sinto que qualquer coisa se acendeu no cantinho de um esconso de memórias e essa luzinha assim a espraiar-se com os dias pelo cómodo todo, a avivar lembranças, a tirá-las de baús bafientos e a mostrá-las,
Lembras-te?
em jeito de confirmação.
Lembro,
quero dizer,
não sei se lembro
porque parece que eu a reler num livro antigo um poema esquecido e a cuidar que diferente, os meus olhos a atentar nas palavras, duvidosos, e nisto, à cautela, olho melhor, e dou conta que afinal as palavras iguais e que só os meus olhos diferentes.
Devolvo o livro ao seu local empoeirado e, visto que dentro do peito pedaço nenhum desapareceu, não é saudade o que sinto, o que sinto é só um quase sorriso no canto do lábio, um ponteiro que se abranda num relógio e aquela fluidez irreal de reviver coisas que já não são.
terça-feira, 19 de maio de 2009

Esta de facto não sou eu, fui eu!!
E o amiguinho era o Joe, o verdadeiro companheiro que insistia em esperar-me todas as noites para me acompanhar a casa.
Num belo dia ferrou bem ferradinho um digníssimo agente da autoridade e acabou exilado, para sempre expulso da Bila.
Será que sou só eu que me lembro dele??
E já agora, o chapéu é do Marco e o casaco do Luís....
Para além do Rock
Ainda hoje não posso recordar Vila Real sem lembrar o êxtase de ouvir Joy Division numa discoteca. Naqueles tempos andava eu na capital a correr as tascas ao ritmo do calendário, terças no Kremlin, quartas no Alcântara, quintas no Plateau para fugir aos sons martelados que se começavam a ouvir um pouco por todo o lado.
Entrei na Ritmin pela primeira vez logo nos primeiros dias de estadia, dias em que me mantive num estado de espanto crónico com as novas latitudes e não só, e saltou de dentro das colunas a voz de Peter Murphy fazendo-me acreditar que devia ter bebido demais no EX. Mas não, isto é, claro que tinha bebido demais, mas estava a ouvir bem, era mesmo Peter Murphy e depois The Cure e Smiths.
E quando eu pensava que já tinha visto tudo, salta de lá "She’s lost control" na voz descontrolada de Ian Curtis.
E julgava eu que vinha da capital….
segunda-feira, 18 de maio de 2009
As 1001 bandas... (I)
Acho que antigamente em Vila Real havia uma banda, ou algo do género, a ensaiar de duas em duas garagens por toda a cidade. Ou qualquer assim...
Não tenho guardado comigo o suficiente para documentar este fenómeno como deve ser, há-de haver quem tenha, não?
Aqui vai uma lembrança, não é das mais antigas...

A Bila tem destas coisas... (III)
domingo, 17 de maio de 2009
Há quantos anos??
Foi há quê? Dezasseis, dezoito anos? Foi há muitos.
E foi mais ou menos assim, tal como o poeta disse da Coca-Cola, primeiro estranha-se depois entranha-se.
E bem que se estranhou, por algum tempo, aqueles blocos de cimento a substituírem a calçada portuguesa, as ruas que ou subiam ou desciam, não as havia a direito, a claustrofobia das paredes de monte, uma de cada lado.
E quando o Luís apareceu a correr vindo do Pioledo, com três amigos para ajudar, já fazia meia hora que o expresso me tinha despejado no cabanelas. Eu, de mala e cuia, a pensar que me tinha enganado, que não era bem ali, que tinha combinado mal.
Não havia telemóveis, foi há quê? Dezassete anos? Não havia telemóveis e eu não podia fazer mais do que esperar pelo amigo que entrara para veterinária no ano passado e se oferecera para me ajudar. Por isso esperei, sentada em cima de uma das malas, enquanto o sol se ia pondo e um frio seco se abeirava numa brisa mansinha. E devido à noite que chegava eram muitos os que subiam a rua em animação, se falavam de um passeio para o outro como se conhecendo todos, me perguntavam até, espante-se, se precisava de ajuda.
Bem que se estranhou, mas por pouco tempo, pouquíssimo. O Luís e os amigos instalaram-me em sua casa numa pressa de malas aos cantos, amanhã arrumas, e sem perceber bem como, dei por mim na explanada do EX a conhecer meia Bila.
Daí até se entranhar foi o tempo de um sorriso, foi o tempo de uma super. E ainda cá está. Há quê? Dezasseis, dezoito anos? Há muitos, e ainda cá está, mais esbatido que antes certamente, mas para sempre entranhado.
Despedida do Ex
Nesse mesmo ano, não me lembro bem como, entrei pela primeira vez no Ex, e quase se pode dizer que nunca mais de lá saí...!
No dia 8 de Abril de 2006 o Ex, como o conhecíamos, abriu as portas pela última vez! (bem... era mais uma porta meia enferrujada)
Muitos dos antigos frequentadores deste bar lá estavam e acho que posso dizer que o sentimento geral era de tristeza e indignação. E apesar de nos últimos tempos de funcionamento o Ex já não andar muito em alta, já não ficar cheio (mesmo muito cheio) de pessoal conhecido nem emanar aquela energia de antigamente, a questão que me surgia era: e agora? Onde vou beber o meu copo e encontrar todas as caras familiares? Pois como o Ex não houve mais nenhum....
Agora os tempos são outros.
Aqui está uma pequena lembrança dessa noite. Muita gente não estava, mas será que encontras a tua assinatura?
