NOTA DE BOAS VINDAS

Mais um blogue.
Para todos nós, amigos, que de algum modo, natural ou sobrenatural, têm a Bila em comum! Diz aquilo que te agrada, aquilo que te incomoda e até aquilo que não te interessa para nada... Mostra-nos as tuas fotografias! Faz o que quiseres mas PARTICIPA!

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quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Reinaldo (II)

Depois de reencontrar o, nunca de facto perdido, Reinaldo, só pude escrever isto.

Dissertação botânica

São como folhas, as gentes.

Pendem-se em aglomerados mais ou menos
extensos, admitindo posições hierárquicas
calhadas em sorte pelo lado do tronco em que nascem.
Embora pareça, não migram, são quase estáticas, tirando,
talvez, alguma agitação provocada
pelos ventos vespertinos e por chuvas outonais.
A maior parte serve de alimento a animais famintos,
outras há, porém, que são abrigo, albergue de vida,
bálsamos multicolores.

São como folhas, as gentes.

Umas amarelecem e caiem, esquecidas,
sob o solo que as absorve. Contudo, algumas,
poucas, são perenes. Ficam,
ainda que no rigoroso inverno nevado.
Ficam, pintando de verde as longas
tardes cinzentas melancólicas.
Ficam, ficam.
Anos, longos anos, inventando, para nós,
um renovado conceito temporal.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

O que é que acham disto?

Depois de um tempo de afastamento do Bilafonias em que as bloguisses se ficaram por aqui e por aqui, lá voltei ontem a colocar por cá algumas linhas.
E tenho andado aí a pensar que se calhar era boa ideia transformar as ondas hertzianas numa mesa com comes e bebes. Seria possível combinar um encontro de Bilafónicos? Onde? Onde havia de ser? Na Bila, claro!!!

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Realmente o Bilafonias veio acender em mim aquelas coisas que todos temos guardadas cá dentro e que um dia, de repente,
Estamos aqui
e nós, de olhos esbugalhados,
Ainda existem?
incrédulos com aquilo que sentimos ao recordá-las, a abanar a cabeça de sorriso distante, velhos num banco de jardim a reviver antigos bailes de aldeia.
Mas depois de um tempo a gente refaz-se. Umas palmadinhas no ombro, um deixa lá, e pronto, a gente refaz-se.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Reinaldo

O estio era assim. As tardes fingindo fornos e nós na esplanada habitual, na mão uma Super, ou outro refresco de teor mais elevado, e enquanto os ponteiros se arrastavam cambaleantes, jogávamos jogos infantis, ligeiramente modificados na pretensão de apelar ao intelecto.

O estio, sem estudantes pelas ruas da Bila, era assim; só os da Bila. Que é o mesmo que dizer, os de lá, os próprios, os nacionais. Fora Vila Real um País e seria, pelo período escaldante do Verão, mais patriótico.
Eu, não porque fosse de lá, lá estava. E partilhei desses momentos intimistas com um sentido de tresmalhada adoptada que lhes conferiam um saborzinho especial.

Estranho é o facto de, tão forte como a sensação do calor a pegar-se à pele, ser a recordação das palavras de Alexander Pope na sua voz, do seu sorriso que parecia em câmara lenta, da sua bendita, apaixonante e louca forma de questionar o mundo a cada segundo.

Pensando bem, talvez não seja assim tão estranho...

Se alguém o vir, não fazendo desse alguém meu criado, diga-lhe isto. Obrigado.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Os poetas da Bila V

Entra-nos pelo peito em borbotões joviais
Este sangue de luz que a madrugada entorna!
Poetas, que somos nós? Ferreiros d'arsenais;
É bater, é bater com alma na bigorna
As estrofes de bronze, as lanças e os punhais!

Acendei a fornalha enorme – a Inspiração.
Dai-lhe lenha, – a Verdade, a Justiça, o Direito
E harmonia e pureza, e febre e indignação;
E p'ra que a lavareda irrompa, abri o peito
E atirai ao braseiro, ardendo, o coração!

Sendo o último dia da semana dos poetas da Bila, permiti-me alargar horizontes (uns 100 Km) e aqui fica um testemunho de Guerra Junqueiro, a quem os políticos chamavam poeta e os poetas apelidavam de político.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Os poetas da Bila IV

Nem Baco nem meio Baco!:
Aqui é o homem,
desde as mãos ossudas e calosas,
desde o suor
ao sonho que transpõe as nebulosas.

Montes de pedra dura,
gólgotas
onde os geios são escadas!
Venham ver como sobe o desespero
e a esperança, de mãos dadas.

Nem Baco nem meio Baco!:
Aqui é o homem
que nada há que não suporte
mas suporta e persiste.
Aqui é o homem até à morte.

Os poetas estão de volta depois da rebeldia de ontem. Desta vez, António Cabral.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Os poetas da Bila III

A ideia era essa. Uma semana, cinco poetas. E eles não faltam, por certo devido ao bafejo que da serra emana.
Mas agora, sei lá eu porquê, a ideia é outra…

Talvez só por hoje (ou não),
vou rebelar-me contra palavras inúteis,
sobejantes, escusadas, vãs.
Palavras que nada dizem,
que nos transviam da felicidade
e nos inundam em fantasias pouco sãs.

Por isso, hoje não há poetas da Bila p'ra ninguém. Veremos amanhã…

terça-feira, 26 de maio de 2009

Os poetas da Bila II

Senhora do Marão e da Saüdade
Tão triste da nossa alma portuguesa,
Junto de ti, vestido de humildade,
Meu coração ajoelhado reza.

Quero amar-te na fria soledade
Da virginal e bruta natureza,
Longe do mundo, na sinceridade
Da mais humana e pura singeleza.

Senhora da Distância e da Neblina,
Alma de lírio em corpo de menina,
Que para o amor dum anjo é que nasceu…

Irei à tua romaria, em breve,
À tua serra antes que volte a neve,
Que te veste de noiva, em lindo véu.

... E o blogue é também de Afonso de Castro

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Os poetas da Bila I

De um lado terra, doutro lado terra;
De um lado gente; doutro lado gente;
Lados e filhos desta mesma serra,
O mesmo que os olha e os consente.

O mesmo beijo aqui; o mesmo beijo além;
Uivos iguais de cão ou de alcateia.
E a mesma lua lírica que vem
Corar meadas de uma velha teia.

Mas uma força que não tem razão,
Que não tem olhos, que não tem sentido,
Passa e reparte o coração
Do mais pequeno tojo adormecido.



Se o blogue é da Bila, o blogue também é de Miguel Torga!!

sexta-feira, 22 de maio de 2009

O que faltava

Nas ruas grassava a luta contra as propinas, mais acima o buraco no ozono era um furinho desacautelado.

No seio dos nossos dias nem portátil, nem telemóvel, nem SIC, nem TVI, nem DVD, nem televisão por cabo, nem preocupações ecológicas, nem Messenger, nem e-books, nem iPod, nem CD-R, nem Skype, nem centro comercial, nem auto-estrada até lá, nem património mundial por vizinho.

No seio dos nossos dias não nos faltava mesmo nada.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Não pensem que é exagero!!

Passara já algum tempo desde que havia chegado à Bila, quando, certa noite, tropecei numa miúda sentada na esplanada do Ex, de pé esticado a ocupar a passagem, e as nossas Supers quase tombaram.
Cinco segundos depois já sabíamos; vínhamos as duas de Almada.
À semelhança do melhor espírito de emigrante, partilhamos, logo ali, histórias escabrosas das nossas adolescências (dentro do limite da escabrosidade admitido para menores de vinte anos). A agitação era tal que as alminhas circundantes nos olhavam desconfiadas, mensurando mentalmente o nosso nível alcoólico e aferindo-o elevadíssimo, enquanto em nós se ia instalando uma amizade que (estranho como nunca nos apercebemos dessas coisas na altura) criaria raízes de carvalho.
O quarto dela confundi-o com o meu, os nossos amigos confundiram-se também e partilhamos algumas “coisas” que o decoro me impossibilita de mencionar. Ao longo do tempo a nossa história e até a nossa vida se misturou de forma permanente. E não pensem que é exagero, senão vejam um exemplo (só um): eu casei com o primo dela e ela conheceu Billy Holiday comigo.
É evidente que, neste caso, em matéria de qualidade ela ficou a ganhar, mas sem querer prosseguir numa lógica contabilística de lucro ou prejuízo, posso afirmar, seguríssima de acertar, que a amizade da Nica foi, de todas as coisas que ganhei em Vila Real, a maior, a melhor, a que ainda hoje permanece inquebrável.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Desde o desafio da Cátia que…

Não, não é saudade, que isso é como hienas a comerem pedacinhos da parte de dentro do peito, e não é assim que sinto.
Sinto que qualquer coisa se acendeu no cantinho de um esconso de memórias e essa luzinha assim a espraiar-se com os dias pelo cómodo todo, a avivar lembranças, a tirá-las de baús bafientos e a mostrá-las,
Lembras-te?
em jeito de confirmação.
Lembro,
quero dizer,
não sei se lembro
porque parece que eu a reler num livro antigo um poema esquecido e a cuidar que diferente, os meus olhos a atentar nas palavras, duvidosos, e nisto, à cautela, olho melhor, e dou conta que afinal as palavras iguais e que só os meus olhos diferentes.
Devolvo o livro ao seu local empoeirado e, visto que dentro do peito pedaço nenhum desapareceu, não é saudade o que sinto, o que sinto é só um quase sorriso no canto do lábio, um ponteiro que se abranda num relógio e aquela fluidez irreal de reviver coisas que já não são.

terça-feira, 19 de maio de 2009

"Essa não és tu", disseram-me hoje.
Esta de facto não sou eu, fui eu!!

E o amiguinho era o Joe, o verdadeiro companheiro que insistia em esperar-me todas as noites para me acompanhar a casa.
Num belo dia ferrou bem ferradinho um digníssimo agente da autoridade e acabou exilado, para sempre expulso da Bila.
Será que sou só eu que me lembro dele??

E já agora, o chapéu é do Marco e o casaco do Luís....

Para além do Rock

A Bila que conheci tinha uma assinatura própria. Ou talvez nós conhecêssemos poucas coisas. O certo é que eu nunca tinha visto nada assim.
Ainda hoje não posso recordar Vila Real sem lembrar o êxtase de ouvir Joy Division numa discoteca. Naqueles tempos andava eu na capital a correr as tascas ao ritmo do calendário, terças no Kremlin, quartas no Alcântara, quintas no Plateau para fugir aos sons martelados que se começavam a ouvir um pouco por todo o lado.
Entrei na Ritmin pela primeira vez logo nos primeiros dias de estadia, dias em que me mantive num estado de espanto crónico com as novas latitudes e não só, e saltou de dentro das colunas a voz de Peter Murphy fazendo-me acreditar que devia ter bebido demais no EX. Mas não, isto é, claro que tinha bebido demais, mas estava a ouvir bem, era mesmo Peter Murphy e depois The Cure e Smiths.
E quando eu pensava que já tinha visto tudo, salta de lá "She’s lost control" na voz descontrolada de Ian Curtis.
E julgava eu que vinha da capital….

domingo, 17 de maio de 2009

Há quantos anos??

Foi há quê? Dezasseis, dezoito anos? Foi há muitos.

E foi mais ou menos assim, tal como o poeta disse da Coca-Cola, primeiro estranha-se depois entranha-se.

E bem que se estranhou, por algum tempo, aqueles blocos de cimento a substituírem a calçada portuguesa, as ruas que ou subiam ou desciam, não as havia a direito, a claustrofobia das paredes de monte, uma de cada lado.

E quando o Luís apareceu a correr vindo do Pioledo, com três amigos para ajudar, já fazia meia hora que o expresso me tinha despejado no cabanelas. Eu, de mala e cuia, a pensar que me tinha enganado, que não era bem ali, que tinha combinado mal.

Não havia telemóveis, foi há quê? Dezassete anos? Não havia telemóveis e eu não podia fazer mais do que esperar pelo amigo que entrara para veterinária no ano passado e se oferecera para me ajudar. Por isso esperei, sentada em cima de uma das malas, enquanto o sol se ia pondo e um frio seco se abeirava numa brisa mansinha. E devido à noite que chegava eram muitos os que subiam a rua em animação, se falavam de um passeio para o outro como se conhecendo todos, me perguntavam até, espante-se, se precisava de ajuda.

Bem que se estranhou, mas por pouco tempo, pouquíssimo. O Luís e os amigos instalaram-me em sua casa numa pressa de malas aos cantos, amanhã arrumas, e sem perceber bem como, dei por mim na explanada do EX a conhecer meia Bila.

Daí até se entranhar foi o tempo de um sorriso, foi o tempo de uma super. E ainda cá está. Há quê? Dezasseis, dezoito anos? Há muitos, e ainda cá está, mais esbatido que antes certamente, mas para sempre entranhado.